Diálogos de cinema & cultura audiovisual por mulheres realizadoras Diálogos de cinema & cultura audiovisual por mulheres realizadoras

Verberenas

Traduções e textos colaborativos das editoras.

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EDITORIAL

O festival aconteceu em setembro durante um momento estranho. Uma mistura de sentimentos: de um lado, a apreensão e melancolia diante do resultado possível das eleições e dos significados desse novo contexto, de outro, um sentimento grande de afeto e resiliência entre artistas que se viam ameaçados pelos discursos autoritários que vinham ganhando força.

Foi a primeira edição em que havia mais realizadoras do que realizadores homens, com uma premiação que chamou a atenção para a qualidade das obras de artistas mulheres, negrxs e LGBT. Um resultado de lutas perenes e de políticas públicas inteligentes implementadas e fortalecidas nos últimos anos, décadas.

Após setembro, vieram primeiro e segundo turno, um furacão de acontecimentos. Atualmente, vemos os primeiros sinais do governo que vem por aí em 2019 já que, em parceria com o atual governo de Michel Temer, Jair Bolsonaro pôde adiantar sua agenda política. A suspensão das cotas que limitam o número de salas dedicadas a um mesmo título é um sinal disso. As regras para lançamentos de filmes brasileiros na chamada “cota de tela” para o próximo ano são incertas.

A composição do Conselho Superior de Cinema da ANCINE com um número ínfimo de representantes do cinema nacional, praticamente dominada por companhias internacionais como Amazon, Netflix e Google, é outro sinal. A companhia de TV a cabo Sky, por exemplo, adianta-se e tem ameaçado excluir o canal CineBrasilTV de sua programação – vale pesquisar sobre a campanha #QueroCineBrasilTVNaSky. Já sabemos também que não haverá Ministério da Cultura em 2019.

O que fazer com tantas notícias ruins? Como não ceder à melancolia e paralisação? Acreditamos que é nesse momento que é essencial mover nossos desejos na direção de um caminho fértil, prolífico. Conversar entre nós, angariar informações de qualidade, redesenhar estratégias, admitir enganos, construir novas pontes. Talvez seja isso que torne os textos dessa edição mais pessoais do que os das edições passadas. Esse reconhecimento no outro. A vulnerabilidade como força e como terreno para o que nos segurará durante o que está por vir.

Muito foi feito de incrível no audiovisual brasileiro nos últimos anos. Muito está sendo feito. E temos um trabalho ainda maior pela frente.

Editoras
Glênis, Letícia e Amanda