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Letícia Bispo

Editora do Verberenas desde julho de 2015 e uma das pessoas a criar o projeto. @brotodefeijao

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48º FBCB – A FAMÍLIA DIONTI

O primeiro longa-metragem exibido na Mostra Competitiva do 48º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro foi “A Família Dionti”, produção do Rio de Janeiro, dirigido e escrito por Alan Minas. No filme, conhecemos a família do título, que vive em uma pequena casa no interior de Minas Gerais: um pai (Josué) e seus dois filhos, Kelton e Serino. A mãe dos garotos desapareceu em circunstâncias misteriosas.

Desde o início, o filme tenta estabelecer um universo com algo sertanejo, algo fantástico, em que as pessoas falam de maneira poética, em que pessoas se transformam em flores, ou ficam “desmilinguidas”. O diretor Alan Minas mencionou a inspiração em Guimarães Rosa e Manoel de Barros, mas há outra referência mais latente: a presença de uma família mágica e marcada por signos que atravessam o tempo e se repetem, tal como a família Buendía de “Cem anos de solidão”, de Gabriel García Marquez.

Em certos momentos, muito devido à montagem descompassada, o desenrolar da história acontece aos tropeços. Na ânsia de introduzir logo o fantástico, a história tem início pouco natural. No entanto, o ótimo desempenho dos atores, mesmo tendo de segurar diálogos caricatos, leva o filme para frente e o torna transparente em certo momento.

A família composta por um homem e dois meninos mostra-se suave, leve e distante do que se espera do contexto do sertão. Em nenhum momento o pai pede dos filhos que sejam o que não querem ser, e é positivo ver que o signo da mudança do filme está presente através das mulheres. A mãe dos garotos é sempre lembrada como alguém que não podia ficar para sempre no mesmo lugar, e afinal se tornou água e foi embora. A menina que chega com o circo desperta o amor no jovem Kelson e transforma sua vida, tornando-o igual à sua mãe. A jovem encarna uma típica personagem “garota-interessante-e-diferente-que-vem-mudar-o-cara”, mas novamente o desempenho da atriz faz Sofia uma personagem encantadora, que não teme o desconhecido e que sabe, antes mesmo de Kelson, que tudo que é livre corre, que a mudança não é somente inevitável, mas pode ser preferível.

Ao passo que Serino e seu pai, que carregam o signo da terra, tem que aprender a deixar que as pessoas partam. A simplicidade e a delicadeza da história acabam por “maquiar” os problemas rítmicos do longa-metragem. O pouco aprofundamento dos temas propostos (amadurecimento, mudança) e a pouca sutileza são escolhas que aparentemente servem para tornar a obra palatável para um público mais infantil (ou infantilizado). Em alguns outros anos do Festival de Brasília, certamente seria um filme um tanto perdido. Na seleção “eclética” deste ano, no entanto, ele cumpre o papel de filme mais “acessível” (com toda a problemática que esse termo pode trazer). Acabou por vencer na categoria Júri Popular.

 

 

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